2/21/2010

O fim da Escola Dominical


A velha e tradicional escola dominical está com seus dias contados. Ao longo dos anos venho observando a luta de colegas pastores no sentido de atrair e manter os membros das igrejas dentro dessa estrutura de ensino que já não parece ser eficaz na atualidade. Como resultado, em muitos lugares o povo está fugindo, deixando um número cada vez maior de professores frustrados por causa da falta de alunos.


Mundanismo? Falta de interesse pelas coisas de Deus? Embora estes fatores possam estar presentes em alguns casos, devo dizer que existem outros motivos que têm contribuído em maior escala para a onda de evasões verificada em todo o país. Mas nem tudo está perdido! Vejamos os principais problemas atualmente enfrentados, e, juntamente com eles, algumas dicas que ajudarão no surgimento de uma nova escola para um novo tempo:


1. As instalações são inadequadas – Ainda é muito praticado o costume de juntar vários professores, falando ao mesmo tempo, para várias turmas, dentro de um mesmo ambiente. Na angústia por se fazer ouvido, é comum que os mestres falem cada vez mais alto, provocando uma confusão sonora que acaba dispersando a atenção e prejudicando o aprendizado do aluno. Sugerimos a separação imediata das turmas, ainda que outras instalações tenham que ser compradas, edificadas, alugadas ou tomadas emprestadas (uma parceria com escolas da comunidade poderá ajudar a resolver o problema).


2. O dia e horário são inadequados – Quando chegamos à Fagundes, nove anos atrás, tentamos implantar o sistema norte-americano de programação, largamente copiado em todo o Brasil, e, ao mesmo tempo, incompatível com nossa realidade cultural. Tentamos fazer nossos domingos com culto e escola bíblica pela manhã, mais atividades diversas depois do almoço, mais o culto da noite. No inicio, nossa comunidade era formada por alguns adolescentes, várias senhoras e dois ou três homens. Foi um fracasso! Descobri que as poucas mulheres que insistiram em vir tiveram problemas em casa, pois o domingo era exatamente o dia em que seus maridos não crentes estavam de folga. A partir disso, repensamos tudo, deixamos as manhãs e tardes de domingo livres para que os irmãos passem o dia em casa com suas famílias. Desde então, nossa escola bíblica, passou a funcionar com algumas turmas no horário das 18:00 às 18:50, antes do culto da noite que começa às 19:00. Outra mudança importante foi o fato de nossa escola deixar de ser chamada escola dominical; hoje temos turmas funcionando aos domingos e sábados, no mesmo horário, e, por isso, nós a chamamos apenas de Escola Bíblica.


3. Não existe uma grade curricular definida – Uma das muitas reclamações que tenho ouvido de muitos crentes diz respeito à falta de uma grade curricular, com começo, meio e fim. Hoje em dia, temos nossa grade curricular própria, que traz as seguintes matérias: Cinco Hábitos para fortalecimento na fé, Conhecendo a Igreja, Introdução ao Antigo Testamento, Introdução ao Novo Testamento, Princípios de Interpretação Bíblica, Teologia Sistemática, Heresiologia (estudamos apenas sobre os grupos que estão presentes em nossa vizinhança), Evangelização e Projetos Comunitários (neste estágio final, a turma é estimulada a desenvolver um projeto que contribua para a evangelização e desenvolvimento comunitário do lugar em que estamos inseridos). A conclusão de cada estágio é marcada pela comemoração dos alunos que acabam de ser aprovados para o próximo nível; e, no final de tudo, fazemos a grande festa em que todos recebem o certificado de conclusão. Depois, os concluintes são inseridos em turmas que estudam a Bíblia livro por livro, passando algumas semanas discutindo algum tema atual entre um livro e outro.


4. Os professores são despreparados – Vivemos em uma época em que o nível de exigência dos ouvintes já começa a ficar mais acentuado, especialmente em meio à parcela mais escolarizada da população. Professores que não dominam bem a língua portuguesa, não conhecem bem a Bíblia nem se esforçam para aprender recursos didáticos necessários ao nosso tempo, estão fadados a ficar sozinhos, falando sozinhos. Dentre outras medidas, resolvemos fazer aqui um banco de leitura que funciona da seguinte forma: O professor leva um livro pra casa e o devolve no mês seguinte, fazendo uma breve exposição oral sobre o que leu; então, pega outro livro e volta quatro ou cinco semanas depois para repetir o processo. Alem disso, só é autorizado a ensinar matérias que ele mesmo já tenha estudado aqui em nossa escola, contando sempre com o auxilio pastoral em relação às dúvidas que normalmente surgem no dia a dia.


5. A escola não é prioridade – Quando a escola bíblica não é priorizada nem devidamente divulgada, sua tendência é ir morrendo pouco a pouco. Para evitar que isso aconteça, divulgamos largamente que nossas turmas estão abertas para todos (inclusive para alunos ainda não crentes) e deixamos bem claro que a freqüência assídua é obrigatória para todos os que exercem ou desejam exercer cargos de liderança dentro da igreja.


6. A escola não é discutida nem organizada a partir da realidade local – Nem sempre as soluções encontradas por uma determinada comunidade serão igualmente úteis para outra. Por isso, faz-se necessário que tudo na escola bíblica seja previamente discutido e montado a partir da realidade local. Por exemplo, na hora de decidir sobre quais grupos heréticos estudar, somente o pastor e sua comunidade saberão quais grupos existem na região e representam de fato uma ameaça para o equilíbrio doutrinário da congregação. Questões de horário também devem ser ajustadas de acordo com a cultura do povo em meio ao qual a igreja está inserida.


A Escola Bíblica, quando organizada de forma apropriada e eficiente, ainda é a maior e melhor ferramenta capaz de produzir crentes convictos, obreiros bem preparados e famílias fortes. O conteúdo da sã doutrina deve ser preservado, mas a forma de transmiti-la deve ser atualizada sempre, sob pena de ficarmos ensinando às paredes.

Humberto de Lima

Humberto de Lima é Bacharel em Direito pela UEPB, graduado em Liderança Avançada pelo Haggai Institute (Maui, EUA) e pastor da IBF – Igreja Batista de Fagundes, PB. É colunista da VINACC e também escreve semanalmente em seu próprio blog, o HumbertodeLima.com

5 comentários:

Francinaldo Nascimento disse...

"Quem deu crédito a nossa pregação e a quem se manisfestou o braço do Senhor".
Sua palavra nos alumia a alma e todos os pontos consolidantes do nosso ser precisam estar aludidos na sua Santa Palavra.
Quando professor de escola bíblica dominical e de Discipulado, no inicio da década de 90, sempre falava coisas assim com veemência e fico feliz de ver, hoje, homens pregadores e pastores que passaram por aquelas aulas de discipulados, e nervosos se batizaram e eu ali dava uma grande força espiritual. Hoje com suas igrejas felizes mas, por outro lado, fico triste por ver tantos que já morreram ou estão na perdição, desviados do caminho, oro por eles. Daquela época, fico muito feliz, por uma época tão maravilhosa em que vivi e não volta jamais.

Anônimo disse...

Pastor Humberto, Gostei de seu comentário, estou trabalhando num TCC, sobre EBD e o impacto na comunidade (Familia, Criminalidade, rendimento escolar, etc.) gostaria de saber se podes me recomendar algum material ou mesmo compartilhar.
Grato,
Paulo César Heidt
Florianópolis/SC.
pcheidt@bol.com.br

IBF - IGREJA BATISTA DE FAGUNDES disse...

Prezado Paulo César,

Este artigo, bem como as mudanças introduzidas em nossa Escola Bíblica são resultado de nosso trabalho ao longo de 10 anos aqui no interior da Paraiba. Reconhecendo que tudo o que parece estar bom ainda pode ser melhorado, peço-lhe que compartilhe com a gente suas descobertas na área. Se quiser, pode também em seu trabalho fazer citação de nosso conteúdo e link, para uma melhor divulgação dessas idéias que estão nos abençoando aqui. Abraço,
Pr. Humberto de Lima.
ib.fagundes@hotmail.com

nilson moura disse...

Pr Humberto, sua postagem esta sendo de uma grande utilidade neste momento, pois envolvido em uma pesquisa para o meu tcc sobre " a educação crista na ebd" venho refletindo profundamente, na questão a influencia dos tempos moderno,na maior escola do mundo e ao mesmo tempo querendo entender o porque a escola bíblica chegou ate aqui, que ao meu entender agonizando,
mesmo amparada e apoiada pela educação crista no decorrer dos tempos.
Nota se claramente, um desinteresse desfreado e um descaso muito grande com uma maior e eficaz forma de desenvolver a capacidade espiritual, moral, intelectual do povo de Deus.
Tenho lido sobre a historia da EBD no mundo, fiquei deslumbrado com a ação do Espirito Santo referente ao real proposito pela qual surgiu a ebd no coração dos escolhidos de Deus.
O amor as almas, com intuito de reintegrar um parcela, da humanidade esquecida, e desamparada, sem recurso nem forças para sozinho se levantar e crescer como um autentico cidadão. Hoje o que presenciamos é uma escola rejeitada, desqualificada, sem forças, e desamparada, e o pior, os principais líder desta escola, sem projeto, sem recursos, sem motivação, e sem amor por este meio de ensino tão importante para a sociedade e a igreja local. Me ajude pastor pois quero escrever sobre isso, e fico preocupado, como vou desenvolver este assunto sem agravar mais a situação, o que posso contribuir desenvolvendo estes meus pensamentos, para com a EB nestes tempos modernos considerados maus. Eu amo a EB, estou pronto a ajudar a EB. me escreva algo sobre tudo isso, e estarei aguradando, cada palavras. graça e paz- um abraço.

Humberto de Lima disse...

Prezado Nilson Moura, fico feliz ao ver um número cada vez maior de irmãos interessados na manutenção e melhoramento da Escola Bíblica!

Esse breve artigo que você acabou de ler resume o que penso sobre o assunto, mas, acredito que há mais boas ideias sendo produzidas e escritas por outros autores sobre o tema.

Sugiro que faça um passeio pelos sites das principais editoras evangélicas e converse com seu orientador acadêmico lá no seminário onde estuda. Certamente ele também saberá indicar outras fontes que irão lhe ajudar em seu trabalho.

Que o Senhor te abençoe nesta empreitada...

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