10/06/2010

As igrejas e a crise de valores no Brasil


“Vós sois o sal da terra; mas se o sal perder o sabor, com que se há de salgar? Para nada mais serve, senão para ser jogado fora e pisado pelos homens.” Mateus 5:13.

Vivemos em um país marcado pelas desigualdades sociais, pela pobreza, pelo analfabetismo, e, principalmente, pela corrupção. Apesar de todo o esforço empreendido por alguns parlamentares no sentido de aperfeiçoar a legislação existente, e, apesar da renovação que temos observado a cada eleição nas assembléias legislativas e no congresso nacional, a explosão de escândalos continua, em todos os setores, como uma doença crônica.

Mudamos as leis e elas continuam sendo descumpridas, substituímos políticos e vários dos novatos optam por não fazer diferença. Onde erramos?

Disse Frei Beto que o poder não muda ninguém, faz com que a pessoa se revele.  Acho que ele tem razão. A raiz do problema parece estar mais embaixo, principalmente nas famílias. São elas que abastecem de gente as escolas, universidades, igrejas, partidos políticos, empresas públicas e privadas e todas as demais instituições do país. 

Portanto, nossa principal crise não é econômica, nem política, nem jurídica. Nossa maior crise é uma crise de valores.

Se nossos meninos fossem ensinados pelos pais a não fazer xixi na rua, não haveria necessidade de se fazer projeto de lei proibindo que nossos homens feitos urinem nos monumentos.

Se nossas crianças aprendessem em casa que é errado furtar, roubar e extorquir, não haveria necessidade de termos uma lei de responsabilidade fiscal tentando impedir que nossos administradores se apropriem indevidamente da coisa pública.

Se no cotidiano dos mais velhos discurso e prática andassem de mãos dadas, adolescentes e jovens não cresceriam sem referencial de autoridade.  Mas, como fariseus pós-modernos, acendemos o cigarro e dizemos para os pequenos que não fumem, subornamos guardas e falamos para os guris que devem andar direito.

Numa época em que ainda não existiam os freezers de hoje, quando o sal era utilizado na preservação de carnes (carne sem sal logo se transformava em carne perdida), Jesus se dirigiu aos seus seguidores, dizendo-lhes que eles deveriam ser o sal da terra.

Em outras palavras, o Mestre estava dizendo que o estilo de vida de seus discípulos deveria, muito mais que os sermões deles, salgar; isto é, deveria influenciar a sociedade em direção ao bem, evitando a decomposição desta.

Tudo isto me leva a concluir que nós precisamos urgentemente repensar nosso jeito de ser igreja e de fazer igreja. E aqui, surgem duas idéias que nós os crentes devemos colocar em prática para ajudar nossa nação a superar tamanha crise de valores, mãe de todas as outras crises: 

1. Harmonizar embalagem e conteúdo – Tão importante quanto se declarar cristão, católico, protestante, evangélico, pentecostal etc., é apresentar mudança de vida. Estamos sendo diferentes em nosso jeito de comprar e de vender, trabalhar, estudar, ser vizinho, tratar a natureza, fazer política? 

2. Ser voz profética para nosso tempo – Ao contrário do que muita gente pensa, os profetas do Antigo Testamento, muito mais do que fazendo previsões do futuro, passavam a maior parte do tempo denunciando os erros e pecados daquela época. Como igreja, devemos manter nossa cabeça no céu sem esquecer que nossos pés ainda estão na terra. Isto deve nos levar a pregar contra toda forma de engano, de injustiça e de exploração do homem pelo homem.

Assim sendo, não haverá perda de relevância, acrescentaremos mais sabor à vida em comunidade e despertaremos em outros a sede de andar com a gente.

 Humberto de Lima

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