9/03/2009

Refletindo a espiritualidade

Contrariando todas as previsões de incrédulos do passado, a espiritualidade não desapareceu no século vinte nem diminuiu neste século vinte e um. O fato é que os regimes totalitários, a expansão científica e o avanço tecnológico não lograram êxito quando propuseram como ordem do dia uma cruzada anti-fé.

Vemos hoje, em todo o mundo, no plano individual, uma busca mais acentuada pelo sagrado, e, no plano coletivo, o expansionismo das religiões. Antes de dizer se isto é bom ou ruim, necessitamos fugir das generalizações, precisamos trocar o macro pelo micro e ajustar o foco para ver, separadamente, as diferentes realidades no mosaico religioso de nosso tempo.

Não tenho dúvidas de que pesquisadores sérios se defrontarão, dependendo do contexto, ora com exemplos dignos de contemplação, ora com práticas merecedoras do mais completo repúdio. Em algumas situações, a prática religiosa é também prática libertadora que luta pela dignidade do ser humano; em outras situações ela é simplesmente instrumento de dominação e exploração do outro.

Quero aqui, afunilar a reflexão, trazendo-a para dentro de nosso mapa verde-amarelo, de maioria cristã, católica e protestante. Embora se perceba um pequeno aumento no número dos que se dizem desconectados das instituições religiosas, convém dizer que a maioria destas pessoas, ainda que de forma isolada, continua cultivando a crença em Deus. Já outros números do IBGE, revelam um crescimento contínuo e cada vez mais acentuado dos evangélicos, ao lado da preocupação católica em conter o êxodo de seus fieis.

Mas, sem a pretensão de discorrer sobre as variáveis que contribuem para o aumento ou diminuição do número de seguidores das diferentes igrejas, quero levantar outra questão, não menos importante, e que, penso eu, tem tudo a ver com o Cristo pregado em todas elas.

Nossa espiritualidade também visa produzir melhores políticos, melhores operadores do direito, melhores administradores da coisa pública, melhores professores, melhores alunos, melhores patrões, melhores empregados, melhores vizinhos, melhores pais, melhores filhos? Estamos melhorando como gente? Se é impossivel transformar a terra em céu, o que estamos fazendo pra evitar que ela se pareça com o inferno? Temos tido preocupação ambiental?

Não é nada recomendável seguir modismos e transformar nossos cultos em meras sessões de auto-ajuda, onde o ter é superestimado em detrimento do ser. Se enveredarmos por este caminho, correremos o risco de ser uma geração de crentes egocêntricos, insípidos e irrelevantes na sociedade.

Pr. Humberto de Lima

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