12/03/2008

Oito anos na Serra do Bodopitá

O Pastor Humberto compartilha suas impressões sobre viver aqui...

Como veio parar no interior? - Pelo fato de sempre ter vivido na cidade grande, eu tinha muita curiosidade sobre a vida no campo. As muitas estórias e “causos” que eu ouvia de meu avô também ajudaram a criar em mim esta vontade de morar perto da roça.

Por que Fagundes? - Antes de vir pra cá eu fazia parte do Conselho de Liderança Espiritual da IBM – Igreja Batista de Manaira, em João Pessoa. Conversei com o Pr. João Filho sobre o meu desejo de trabalhar no interior; e ele me deixou à vontade para escolher uma cidade. Viajei bastante, mas não senti direção de Deus para ficar em nenhum dos lugares por onde passei. Até que certo dia o Pr. João me falou sobre Fagundes... Fui em seguida apresentado ao casal Paulo & Lala, irmãos fagundenses que vivem na capital. Eles me trouxeram para ver a cidade; e aí foi amor à primeira vista. Em fevereiro de 2001, eu e minha familia chegamos aqui, enviados e sustentados pela Igreja Batista de Manaira.

Como é viver aqui? - Viver aqui tem suas vantagens: Ar puro, muito verde, clima ameno, trânsito tranqüilo... Aqui eu não preciso de transporte para ir ao banco, ao supermercado ou aos correios... É tudo muito perto e eu vou a pé. Além disso, estamos a apenas trinta minutos de Campina e a uma hora e meia da capital! É também um lugar muito bom para quem quer estudar. Minha familia é atualmente composta por três universitários, um estudante do ensino médio e uma aluna do ensino fundamental. Somos gratos ao Município pelo transporte escolar gratuito ao longo desses anos! E, para viver bem aqui, basta lembrar que Deus nos deu dois ouvidos e apenas uma boca... Ouça mais, fale menos, cuide de sua própria vida e você não se meterá em encrencas.

Sobre política partidária... - Vejo a política partidária como algo necessário para a manutenção de um Estado Democrático; ela estimula ao exercício da cidadania. O problema em Fagundes é que na maioria das vezes o seu adversário político é também seu adversário pessoal. Desde que cheguei aqui, tenho distribuído, com apoio dos comerciantes locais, cópias de um texto de minha autoria, intitulado "Os 10 Mandamentos do Eleitor". O texto visa fortalecer em cada cidadão a idéia do voto responsável. Logo que cheguei, recebi convites, de todos os lados, para me filiar a um partido. Decidi não aderir a nenhum dos grupos porque estou convicto de minha vocação pastoral e penso que um líder religioso não deve misturar as coisas... É meu papel estimular aos irmãos para que participem do processo eleitoral livremente; sem que eu tenha que influenciá-los em beneficio deste ou daquele candidato.

A juventude: Percebo que em Fagundes já não existe, entre os jovens, o desejo de trabalhar na agricultura; dessa forma, os mais velhos vão morrendo e as terras vão ficando abandonadas. Assim, a cidade vai perdendo sua vocação agrícola, sem que sejam criadas oportunidades em outras áreas do setor produtivo. Neste processo, jovens do sítio são atraídos para a zona urbana, na esperança de conseguir subemprego oferecido por algum político; e, outros, sem nenhuma qualificação profissional, acabam migrando para a região sudeste. Aqueles que não fazem uma coisa nem outra, ficam na ociosidade e se tornam presas fáceis do tabagismo, alcoolismo, gravidez na adolescência, entre outros males sociais. Aqui na IBF, além de receber orientação espiritual, nossos rapazes e moças são encorajados para que prossigam em seus estudos e não saiam da cidade sem antes concluir um curso superior.

Sobre as outras religiões: Penso que nessa área precisamos ter muito cuidado, para que a fé não se transforme em fanatismo. A fé se transforma em fanatismo quando você se anula como ser pensante e aceita tudo, sem questionar nada, sem comparar as idéias. Convém lembrar que em suas epistolas, São Paulo nos fala sobre a necessidade de oferecermos para Deus um culto racional, onde fé e inteligência se misturam. Por outro lado, a fé também se confunde com fanatismo quando você age com intolerância em relação aos que pensam de forma diferente. Eu sou protestante e não abro mão de minhas convicções nem de minhas doutrinas. Porém, o que mais me identifica como verdadeiro cristão não é o rótulo, não é o título de Batista. Eu provo que sou realmente cristão quando eu trato bem aos Católicos, Espíritas, Testemunhas de Jeová, Evangélicos de outras denominações etc.

A IBF hoje: A Igreja Batista de Fagundes é uma comunidade muito abençoada. Temos uma liderança forte, dois de nossos rapazes já foram enviados para o seminário, e, nosso templo é confortável, moderno e de notável beleza arquitetônica. Também somos gratos a Deus pela maior de todas as conquistas: a atenção e o respeito com que somos tratados pelo povo fagundense!

Uma mensagem ao povo: “Aproximem-se de Deus, e Ele se aproximará de vocês...” (São Tiago 4:8). Quero também aproveitar o momento e convidar a todos para a festa de oito anos da IBF. Será um enorme prazer encontrá-los por lá!

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