12/27/2010

Pare e Pense!

Deus é sábio em tudo o que faz. Ele nos orienta para  em certos momentos parar e aproveitar o instante, refletindo um pouco sobre nossas vidas e as coisas que nos cercam. 
 
Quando Ele parou no sétimo dia não foi por necessidade física, PORQUE ELE É DEUS! Foi por amor de mim e de você. Foi para dar um exemplo de como se deve proceder em meio à lida. 
 
Deus não precisava parar, mas precisava mostrar que parar é necessário. Foi um conselho expresso em uma ação. Mais tarde, no monte Sinai, Ele acrescentou mais um significado ao dia de descanso: Um dia para se buscar a Deus, o dia do Senhor!
 
Mas infelizmente o homem se tornou especialista em fazer  mau uso do que Deus lhe deu. Hoje não se vê mais o dia de descanso sendo usado para tal fim. As pessoas fazem qualquer coisa, mas não repousam, não adoram a Deus, não buscam o Seu Nome nem seus conhecimentos. Assim, deixam de se fortalecer para a nova semana que se inicia. 
 
O mesmo acontece com as festas de final de ano. Deveríamos refletir sobre tudo o que se passou e pedir a Deus que nos auxilie para não cometermos os mesmos erros, além de agradecer pelos livramentos recebidos (de alguns destes livramentos nem mesmo tomamos conhecimento!).
 
Que Deus através deste pequeno texto possa estar tocando em nossos corações sobre a necessidade de parar e olhar para cima, para Ele, que está sempre pronto a nos ouvir.
 
E que Ele cure nossos pensamentos dolorosos do passado, abençoando nossas vidas hoje e sempre!
 
Feliz Natal – Feliz Ano Novo!
 
Roberto Martins*

*Roberto Martins é Funcionário Público e Membro da IBF.

11/24/2010

Receita para viver melhor


“Jesus respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e grande mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Mateus 22:37-39.
 
A receita de Jesus para uma boa qualidade de vida é uma receita em três dimensões. É semelhante a um banquinho de três pernas – se faltar qualquer uma delas, acaba-se a sustentabilidade e a pessoa vai ao chão.

Conforme vemos no texto bíblico supracitado, o primeiro ponto desta receita nos aconselha amar ao Senhor nosso Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento. 
 
Religiosos em geral são unânimes quando dizem que este é o primeiro passo a ser dado por aqueles que desejam vida abundante. De fato, estar bem com Deus é pré-requisito indispensável para o bem estar em outras áreas da existência.
 
Em seguida, o mesmo evangelho destaca que o amor ao próximo é o segundo ponto desta receita deixada pelo Mestre. Certa vez, conversando com os seus discípulos, ele disse: “amai-vos uns aos outros”. E acrescentou: “Desta forma todos saberão que vocês são meus discípulos – se vocês amarem uns aos outros”. 
 
Verdadeiramente, nossa proximidade com Deus pode ser avaliada a partir de nossa proximidade com nossos semelhantes. Simplesmente não dá para acreditar numa espiritualidade que transforma o ser humano em um ser azedo, insuportável e chato.
 
Por último, vamos a um ponto muito esquecido pelos cristãos em geral. Jesus ensina que o amor com o qual devemos amar aos outros deve ser equivalente ao amor que devemos dedicar a nós mesmos. Em outras palavras, ele está dizendo que cada pessoa também precisa amar a si mesma. 
 
Sim, você precisa se amar! Ainda que você seja querido por Deus e também por muitas outras pessoas, sua vida estará em desequilíbrio se você não consegue amar a si mesmo.
 
Sem querer reduzir verbo tão amplo dentro de um conceito tão limitado, eu arriscaria dizer que amar é, dentre muitas outras coisas, cuidar, proteger, investir, encorajar, animar, acreditar, afirmar...
 
Isto posto, convém perguntar e responder: Eu me amo? Eu me cuido? Eu me protejo? Eu invisto em mim mesmo? Eu me encorajo e me animo? Eu acredito no meu potencial como gente? 
 
A pessoa que segue esta receita de Jesus acaba por criar uma atmosfera positiva em redor de si mesma. Isto geralmente atrai a atenção e a companhia de mais gente. E como é bom estar perto de quem vive de bem com a vida!
Humberto de Lima

10/06/2010

As igrejas e a crise de valores no Brasil


“Vós sois o sal da terra; mas se o sal perder o sabor, com que se há de salgar? Para nada mais serve, senão para ser jogado fora e pisado pelos homens.” Mateus 5:13.

Vivemos em um país marcado pelas desigualdades sociais, pela pobreza, pelo analfabetismo, e, principalmente, pela corrupção. Apesar de todo o esforço empreendido por alguns parlamentares no sentido de aperfeiçoar a legislação existente, e, apesar da renovação que temos observado a cada eleição nas assembléias legislativas e no congresso nacional, a explosão de escândalos continua, em todos os setores, como uma doença crônica.

Mudamos as leis e elas continuam sendo descumpridas, substituímos políticos e vários dos novatos optam por não fazer diferença. Onde erramos?

Disse Frei Beto que o poder não muda ninguém, faz com que a pessoa se revele.  Acho que ele tem razão. A raiz do problema parece estar mais embaixo, principalmente nas famílias. São elas que abastecem de gente as escolas, universidades, igrejas, partidos políticos, empresas públicas e privadas e todas as demais instituições do país. 

Portanto, nossa principal crise não é econômica, nem política, nem jurídica. Nossa maior crise é uma crise de valores.

Se nossos meninos fossem ensinados pelos pais a não fazer xixi na rua, não haveria necessidade de se fazer projeto de lei proibindo que nossos homens feitos urinem nos monumentos.

Se nossas crianças aprendessem em casa que é errado furtar, roubar e extorquir, não haveria necessidade de termos uma lei de responsabilidade fiscal tentando impedir que nossos administradores se apropriem indevidamente da coisa pública.

Se no cotidiano dos mais velhos discurso e prática andassem de mãos dadas, adolescentes e jovens não cresceriam sem referencial de autoridade.  Mas, como fariseus pós-modernos, acendemos o cigarro e dizemos para os pequenos que não fumem, subornamos guardas e falamos para os guris que devem andar direito.

Numa época em que ainda não existiam os freezers de hoje, quando o sal era utilizado na preservação de carnes (carne sem sal logo se transformava em carne perdida), Jesus se dirigiu aos seus seguidores, dizendo-lhes que eles deveriam ser o sal da terra.

Em outras palavras, o Mestre estava dizendo que o estilo de vida de seus discípulos deveria, muito mais que os sermões deles, salgar; isto é, deveria influenciar a sociedade em direção ao bem, evitando a decomposição desta.

Tudo isto me leva a concluir que nós precisamos urgentemente repensar nosso jeito de ser igreja e de fazer igreja. E aqui, surgem duas idéias que nós os crentes devemos colocar em prática para ajudar nossa nação a superar tamanha crise de valores, mãe de todas as outras crises: 

1. Harmonizar embalagem e conteúdo – Tão importante quanto se declarar cristão, católico, protestante, evangélico, pentecostal etc., é apresentar mudança de vida. Estamos sendo diferentes em nosso jeito de comprar e de vender, trabalhar, estudar, ser vizinho, tratar a natureza, fazer política? 

2. Ser voz profética para nosso tempo – Ao contrário do que muita gente pensa, os profetas do Antigo Testamento, muito mais do que fazendo previsões do futuro, passavam a maior parte do tempo denunciando os erros e pecados daquela época. Como igreja, devemos manter nossa cabeça no céu sem esquecer que nossos pés ainda estão na terra. Isto deve nos levar a pregar contra toda forma de engano, de injustiça e de exploração do homem pelo homem.

Assim sendo, não haverá perda de relevância, acrescentaremos mais sabor à vida em comunidade e despertaremos em outros a sede de andar com a gente.

 Humberto de Lima

9/08/2010

Prece hodierna



Que eu mantenha minha cabeça no céu sem esquecer que meus pés estão na terra;
Que eu me aproxime de ti sem me distanciar do meu vizinho;
Que eu, incapaz de fazer tudo, ainda assim faça algo pelo meu povo;
Que eu, teu pregador, provoque em meu ouvinte a vontade de ter o Cristo que eu digo ter.
Ajuda-me, Senhor!

Que esse pedacinho de mapa se torne melhor porque nele pisei;
Que eu te veja no aflito e o aflito te veja em mim;
Que minhas pequenas boas ações inspirem outras boas ações;
Que eu, sal da terra, cause no outro, sede pelas coisas de Deus.
Ajuda-me, Senhor!

Que o teu reino seja implantado em mim e ao meu redor;
Que eu te empreste meus pés, minhas mãos e minha voz;
Que meus discípulos sejam cada vez mais parecidos contigo;
Que a vida seja plenamente vida e também missão.
Ajuda-me, Senhor!

Humberto de Lima

8/01/2010

As igrejas e o meio ambiente


George Bernard Shaw (1856-1950) certa vez questionou: - “Nos disseram que quando Jeová criou o mundo, Ele viu que estava muito bom. O que Ele diria agora?” Se maior atenção fosse dada ao Velho Livro, veríamos que princípios de sustentabilidade, atualmente propagados como se fossem novidades, lá estão presentes desde a narrativa de Gênesis. Vejamos, pois, alguns deles:

Se explorar é preciso, preservar é indispensável – Em Gênesis 2:8,15, o texto vetero-testamentário nos diz que “o Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para o lavrar e o guardar”. Enquanto lavrar significa trabalhar e explorar a terra habitada, guardar significa literalmente proteger, preservar. 

Mais adiante, vemos em Levítico 25:3,4., a seguinte recomendação, dada aos antigos hebreus: “Semeia tua terra durante seis anos e colhe seus frutos. Mas no sétimo ano haja sábado de repouso para a terra, um sábado ao Senhor; não semeies o teu campo nem podes tua vinha”. Esta recomendação tinha como objetivo proporcionar o descanso e a recomposição do solo intensivamente explorado durante os seis primeiros anos.

Sobre o cuidado com os animais, em Deuteronômio 22:6,7., os descendentes de Abraão já liam: “Se encontrares um ninho de pássaros, numa arvore ou no chão, com filhotes ou ovos, e a mãe posta sobre os filhotes ou sobre os ovos, não tomes a mãe com os filhotes. Deixa a mãe ir, podes tomar os filhotes para ti; para que seja para ti um bem e para que possas ter longos dias”. 

Pensemos aqui na lógica preservacionista que se nos apresenta diante de uma situação como essa. Se levarmos a ave-mãe com os filhotes ou com ovos, ficará solto na natureza apenas o macho (incapaz de se reproduzir sozinho) e a espécie entrará em risco de extinção.


Pequenas comunidades auto-sustentáveis são uma alternativa aos grandes centros urbanos - Em Gênesis 1:,28, a Bíblia diz sobre o homem e a mulher: “Deus os abençoou e lhes disse: - Frutificai, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a”. Mais tarde, ainda no mesmo livro, exatamente no capítulo 11, contrariando a orientação dada por Deus no versículo supracitado, os homens tentaram construir a torre de babel e foram veementemente reprovados e dispersos pelo Criador. Fica bem claro, a partir do episódio, que o propósito divino previa uma distribuição populacional que desestimulava a concentração urbana. 

Atualmente, como conseqüência de nossa resistência àquele propósito, vivemos em cidades super populosas, poluídas, barulhentas, quentes, depredadas do ponto de vista natural, caras e inseguras.

Pensemos. Como estaríamos vivendo hoje se desde o começo tivéssemos tido o cuidado de fixar o homem do campo em seu habitat original, se tivéssemos investido em pequenas comunidades harmonizadas com a natureza e treinadas para buscar a sustentabilidade?

Há alguma coisa que a gente possa fazer? - O cuidado com o meio ambiente não deve ser preocupação apenas dos pesquisadores, nem dos políticos, nem dos educadores, nem das ONGs. Como Igreja, devemos lembrar que, embora nossas cabeças estejam voltadas para o céu, nossos pés ainda estão na terra; por isso, devemos fazer o melhor para que o lugar onde nós estamos vivendo não fique parecido com o inferno.

Pastores e demais líderes, como formadores de opinião que somos, podemos pensar, pregar, falar, ensinar, escrever e conversar sobre preservação ambiental. 

Podemos estimular hábitos de consumo saudáveis, desenvolver e apoiar projetos comunitários voltados para o desenvolvimento sustentável. 

Podemos também orientar nossos irmãos para que sejam mais cuidadosos na eleição de nossas autoridades executivas e parlamentares, cobrando destas mesmas autoridades, ações que resultem em melhor qualidade de vida para a flora, para a fauna e para nós cidadãos. 

Então, vamos contribuir para melhorar estes pedacinhos de mapa onde nossas congregações estão inseridas?


Humberto de Lima

7/03/2010

De pastor para pastor...

Caro Colega,

Andei lhe observando recentemente e muito me alegrei por isso. Como você mudou! Nos velhos tempos, as pessoas iam embora sem lembrar qual tinha sido o texto ou o tema sobre o qual você tinha falado. Hoje em dia, percebo que as emoções ainda fluem livremente através de sua fala e das reações de seus ouvintes; mas você não é mais legalista nem sensacionalista como antes. Sua pregação agora é cada vez mais bíblica, lógica, pensada, coerente e edificante.

Confesso que, como você, também senti medo na noite em que fui ordenado dentro daquela capelinha branca, no bairro nobre da cidade grande. Temi pelas experiências que ainda iría viver e pelas lições que ainda iría aprender.

De fato, pouco a pouco, a visão romântica que tínha do ministério foi se dissipando diante das adversidades que atravessaram o meu caminho. Veja bem, falo de adversidades que atravessaram o meu caminho! Por isso, peço que me ouça; pois sei do que você fala e entendo bem o momento que você vive.

Sei o que é ser olhado com desprezo e preconceito quando em alguns lugares preciso dizer o que faço, quando me apresento como um pastor.

Sei o que é trabalhar muito, viver honestamente e ter que circular em meio a uma sociedade que nos critica quando nos vestimos mal e que nos calunia quando nos vestimos bem. Mesmo que não verbalizem uma palavra sequer, seus pensamentos afloram em suas testas, sempre prontos para nos chamar de miseráveis ou insinuar que somos ladrões.

Sei o que é doar e me doar para depois sofrer a ingratidão de alguns. Nessas horas a resposta nunca chega; fica apenas a pergunta – Por quê? 

Eu sei de tudo, JJ, eu sei de tudo! Sei inclusive porque apesar de estares agora  triste e cansado, tu não desistes da tua missão.

É que nossa grande motivação não vem das pessoas a quem damos a mão, nem das famílias que recebem nossa ajuda, nem das vidas que reanimamos. Estes, nem sempre dizem: obrigado!

Nossa grande motivação vem do Mestre. É o Mestre quem nos chama e também nos faz apaixonados. Recordo do que falou o Pr. João Filho no sermão da noite em que fui consagrado. Ele disse que o melhor de ser pastor é saber que também temos um Pastor. 

Portanto, receba meu abraço, continue firme e siga olhando para o Mestre. 

Humberto de Lima

6/01/2010

Comunicado

Comunicamos a toda a comunidade evangélica que em Assembléia Extraordinária, realizada no último domingo, dia 30 de maio de 2010, foi decidido por unanimidade que a partir dessa data, a IBF – Igreja Batista de Fagundes se desliga da Convenção Batista Paraibana e também da Convenção Batista Brasileira.

Acrescentamos que apesar da decisão tomada em relação às instituições convencionais, continuamos abertos para a comunicação e parceria com todos os pastores e igrejas amigas que assim o desejarem.

Enfatizamos ainda que entre nós, nada muda em relação às doutrinas e princípios batistas herdados de nossos pioneiros e até hoje ensinados por nossa igreja.

Fagundes, 01 de Junho de 2010.

Pr. Humberto Batista de Lima

Presidente

5/05/2010

Os batistas brasileiros e a autonomia das igrejas.



Fundamentação Bíblica - A autonomia das igrejas locais é um princípio estabelecido desde os tempos neo-testamentários, com farta relação de textos atestando a sua prática nos Atos dos apóstolos, nas epístolas e até no livro de Apocalipse. Embora possamos observar que dentro daquele contexto histórico houve a realização de um concílio em Jerusalém (Atos 15), o exame cuidadoso do texto nos leva a entender que:
1. A necessidade do concílio surgiu a partir de uma dúvida doutrinária semeada entre os irmãos gentios por alguns que não aceitavam a transição do antigo Judaísmo para o Cristianismo que acabara de ser lançado (verso 1).
2. A ida ao concílio foi espontânea. Ninguém os convocou. Após discutir o assunto, reconhecendo a necessidade de ouvir os apóstolos e outros irmãos mais experientes, eles resolveram ir para Jerusalém (v 2).
3. Durante o concilio, fariseus, apóstolos e anciãos presentes fizeram uso da palavra (versos 5 e 6). Também falaram Pedro, Paulo, Barnabé e Tiago, sem que houvesse entre eles qualquer diferença de ordem hierárquica (versos 7, 12, 13).
4. A recomendação do concilio para a questão em pauta foi comunicada às igrejas como sendo uma recomendação coletiva, que teve o apoio de toda a assembléia presente (verso 22 e seguintes).
5. Resolvida a questão, dissolvido foi o concilio. Cada um passou a cuidar de sua própria comunidade e os itinerantes prosseguiram na tarefa de pregar o Evangelho e plantar novas igrejas, sem que entre eles tenha sido estabelecida a figura de um líder máximo.
Anos mais tarde, o apóstolo Paulo, diante da enorme quantidade de igrejas e também do número de obreiros que rejeitavam a sua visão de trabalho, não ousou exercer sobre eles qualquer primazia, deixando bem claro que a pregação do nome de Cristo era o que mais importava (Filipenses 1:15-19). E, finalmente, quando Jesus trata com as sete igrejas da Ásia, não endereça suas correspondências a nenhum arcebispo, pelo contrário, trata com o anjo de cada igreja em particular (Apocalipse 2 e 3)!
Fundamentação Histórica – Sabemos que o surgimento do papado criou dentro do mundo cristão uma divisão anteriormente não observada na igreja primitiva – o alto e o baixo cleros. Uma vez corrompido o alto clero, composto pelo papa e pelos seus assessores mais próximos, sacerdotes sem grande poder político dentro da cadeia eclesiástica também se deixaram corromper ou foram brutalmente silenciados pela repressão de Roma. Essa foi a marca da Idade Média, período de obscurantismo, exploração, torturas e homicídios praticados em nome de Deus!
Mais tarde, a Reforma Protestante do século XVI, que teve Lutero como principal líder, seguido por Calvino, Zwinglio e tantos outros, passou a ser divulgada na Europa pelos anabatistas, comunidades independentes de cristãos, que com suas idéias libertadoras, acabaram contribuindo para a formação doutrinária dos atuais batistas. Defensores apaixonados da autonomia da igreja local, os primeiros batistas nos deixaram até hoje, como legado, esse principio que está bem arraigado na alma e no jeito de ser de nosso povo.
Ameaças Pós-Modernas – Em seu site oficial, a Convenção Batista Brasileira, referindo-se ao princípio da autonomia das igrejas, diz o seguinte: “O princípio governante para uma igreja local é a soberania de Jesus Cristo. A autonomia da igreja tem como fundamento o fato de que Cristo está sempre presente e é a cabeça da congregação do seu povo. A igreja, portanto, não pode sujeitar-se à autoridade de qualquer outra entidade religiosa”.
Apesar disso, temos observado no Brasil grande desinteresse por parte de muitas igrejas no que diz respeito às relações convencionais, desinteresse bem semelhante ao que já vem ocorrendo nos Estados Unidos, onde denominações históricas cada vez mais enfraquecem e prosperam as igrejas livres.
Isaltino Gomes Coelho Filho, respeitado autor batista, em artigo publicado em sua página, além de declarar que o principio da autonomia da igreja local é inegociável, aprofunda o seu pensamento sobre a crise denominacional, dizendo: “Entendo que vivemos um tempo bem diferente do vivido há 20 anos. As estruturas denominacionais passam por um processo de desgaste junto às igrejas. Sua imagem está afetada. Isto é conseqüência até mesmo de um dado cultural, a pós-modernidade, momento social em que vivemos e em que as estruturas são questionadas e deixadas de lado, e o individualismo é cada vez mais acentuado. Para piorar, em algumas de nossas instituições denominacionais houve má gerência, e isto atingiu as demais. Em outras, houve açodamento de pessoas que confundiram as coisas e conseguiram, com suas atitudes, criar uma postura refratária por parte das igrejas”.
Diante da diminuição do número de igrejas cooperantes e da indiferença de muitas outras que ainda contribuem para a manutenção do plano cooperativo, mas já não participam ativamente dos programas em comum, tem surgido em alguns lugares a idéia de rever as relações convencionais, impondo às igrejas filiadas mudanças que ferem acintosamente o princípio da autonomia da igreja local. Citando casos isolados de pastores e igrejas que se desviaram das boas práticas batistas, os proponentes dessas mudanças tentam impor modificações no estatuto e no regimento interno de cada igreja, adequando-os ao estatuto e ao regimento interno da convenção. Dessa forma, abrem-se brechas jurídicas que mais tarde poderão resultar em intervenção dos órgãos convencionais nas igrejas locais!
Apelo ao bom senso – Por isso, se tais idéias forem aprovadas, irão produzir efeito inverso ao esperado pelas lideranças denominacionais, causando uma debandada em série por parte da grande maioria das igrejas acostumadas à liberdade herdada de nossos pioneiros e avessas ao sistema de governo episcopal. Na hora H, as comunidades locais, inseridas dentro de um mundo cada vez mais pensante, tomarão suas decisões levando em conta os seguintes pontos:
1. Entre o bíblico e o extra-bíblico, preferirão ficar com o bíblico – No artigo supracitado, Isaltino Gomes Coelho Filho, analisando nossas estruturas convencionais, afirma: “Em outras vezes, a luta por poder, nos bastidores, em nada difere da luta que se vê no mundo. Esta confusão, para mim, se deu porque se ignorou o fato de que a estrutura é serva das igrejas e existe em função delas e não o oposto. Nem mesmo chamo nossas instituições de denominação porque denominação, no meu entendimento, são as igrejas e as doutrinas que elas sustentam. Chamo de estrutura e as vejo como pára - eclesiásticas, ou seja, elas existem para caminharem ao lado das igrejas. Por isso, entendo que as estruturas precisam rever seus métodos e seu discurso”.
Como já vimos no inicio deste ensaio, não existe no Novo Testamento nenhuma ordenança no que diz respeito à filiação ou subordinação das igrejas locais a qualquer instituição religiosa. Portanto, todas as outras organizações que criamos, somente terão razão de ser enquanto forem interessantes para as igrejas locais.
2. Entre a compulsoriedade e a espontaneidade, ficarão com a espontaneidade – As igrejas do Novo Testamento cooperavam umas com as outras espontaneamente, como desejavam e podiam.
3. Entre a agência de missões e a igreja, optarão por fazer missões através da igreja – No que diz respeito às missões transculturais, já está provado que é bem mais fácil evangelizar a Bolívia através de crentes bolivianos e Cuba através de crentes cubanos. Ao que me parece, as grandes igrejas de nossos dias também já descobriram que o melhor modelo de evangelização nacional é aquele em que Igrejas plantam Igrejas! Este método, além de mais rápido e mais econômico (pois aplica diretamente no campo missionário valores que seriam gastos para sustentar a burocracia convencional), produz maior envolvimento por parte dos membros das igrejas locais e em muito facilita o acompanhamento das Igrejas Filhas.
Convenções – Extinguir ou repensar? – Ao longo dos anos, as assembléias convencionais têm sido marcadas em todo o país por acirradas discussões que sempre giram em torno de questões financeiras, patrimoniais e outras mais oriundas das disputas por cargos. Ouvi certa vez alguém de outra denominação se referir à última assembléia convencional de que participara como sendo a “convenção da liminar” pelo fato de ter a mesma se transformado num palco de gladiadores onde a Bíblia foi trocada pelo Código Civil, com constantes ameaças de uso do Código Penal entre um discurso e outro. Nós batistas, não estamos muito distantes disso; mas, esses encontros de onde as pessoas acabam saindo tristes e ressentidas poderiam ter final bem melhor caso as convenções resolvessem repensar o papel que ainda lhes cabe entre nós.
Para não perder de uma vez por todas a relevância, sugiro que as convenções abram mão de toda e qualquer atitude impositiva, sob pena de se verem esvaziadas. Redirecionar o foco, transformando-se em órgãos organizadores de encontros, congressos, seminários, simpósios, mini-cursos, treinamentos e outros eventos que tenham como propósito principal o congraçamento, o encorajamento e o fortalecimento das igrejas locais é a saída, a mais sensata saída!
Humberto de Lima
Humberto de Lima é bacharel em Direito pela UEPB, graduado em Liderança Avançada pelo Haggai Institute (Maui, EUA) e pastor da IBF – Igreja Batista de Fagundes, PB. É colunista da VINACC e também escreve semanalmente em seu próprio blog, o HumbertodeLima.com

2/21/2010

O fim da Escola Dominical


A velha e tradicional escola dominical está com seus dias contados. Ao longo dos anos venho observando a luta de colegas pastores no sentido de atrair e manter os membros das igrejas dentro dessa estrutura de ensino que já não parece ser eficaz na atualidade. Como resultado, em muitos lugares o povo está fugindo, deixando um número cada vez maior de professores frustrados por causa da falta de alunos.


Mundanismo? Falta de interesse pelas coisas de Deus? Embora estes fatores possam estar presentes em alguns casos, devo dizer que existem outros motivos que têm contribuído em maior escala para a onda de evasões verificada em todo o país. Mas nem tudo está perdido! Vejamos os principais problemas atualmente enfrentados, e, juntamente com eles, algumas dicas que ajudarão no surgimento de uma nova escola para um novo tempo:


1. As instalações são inadequadas – Ainda é muito praticado o costume de juntar vários professores, falando ao mesmo tempo, para várias turmas, dentro de um mesmo ambiente. Na angústia por se fazer ouvido, é comum que os mestres falem cada vez mais alto, provocando uma confusão sonora que acaba dispersando a atenção e prejudicando o aprendizado do aluno. Sugerimos a separação imediata das turmas, ainda que outras instalações tenham que ser compradas, edificadas, alugadas ou tomadas emprestadas (uma parceria com escolas da comunidade poderá ajudar a resolver o problema).


2. O dia e horário são inadequados – Quando chegamos à Fagundes, nove anos atrás, tentamos implantar o sistema norte-americano de programação, largamente copiado em todo o Brasil, e, ao mesmo tempo, incompatível com nossa realidade cultural. Tentamos fazer nossos domingos com culto e escola bíblica pela manhã, mais atividades diversas depois do almoço, mais o culto da noite. No inicio, nossa comunidade era formada por alguns adolescentes, várias senhoras e dois ou três homens. Foi um fracasso! Descobri que as poucas mulheres que insistiram em vir tiveram problemas em casa, pois o domingo era exatamente o dia em que seus maridos não crentes estavam de folga. A partir disso, repensamos tudo, deixamos as manhãs e tardes de domingo livres para que os irmãos passem o dia em casa com suas famílias. Desde então, nossa escola bíblica, passou a funcionar com algumas turmas no horário das 18:00 às 18:50, antes do culto da noite que começa às 19:00. Outra mudança importante foi o fato de nossa escola deixar de ser chamada escola dominical; hoje temos turmas funcionando aos domingos e sábados, no mesmo horário, e, por isso, nós a chamamos apenas de Escola Bíblica.


3. Não existe uma grade curricular definida – Uma das muitas reclamações que tenho ouvido de muitos crentes diz respeito à falta de uma grade curricular, com começo, meio e fim. Hoje em dia, temos nossa grade curricular própria, que traz as seguintes matérias: Cinco Hábitos para fortalecimento na fé, Conhecendo a Igreja, Introdução ao Antigo Testamento, Introdução ao Novo Testamento, Princípios de Interpretação Bíblica, Teologia Sistemática, Heresiologia (estudamos apenas sobre os grupos que estão presentes em nossa vizinhança), Evangelização e Projetos Comunitários (neste estágio final, a turma é estimulada a desenvolver um projeto que contribua para a evangelização e desenvolvimento comunitário do lugar em que estamos inseridos). A conclusão de cada estágio é marcada pela comemoração dos alunos que acabam de ser aprovados para o próximo nível; e, no final de tudo, fazemos a grande festa em que todos recebem o certificado de conclusão. Depois, os concluintes são inseridos em turmas que estudam a Bíblia livro por livro, passando algumas semanas discutindo algum tema atual entre um livro e outro.


4. Os professores são despreparados – Vivemos em uma época em que o nível de exigência dos ouvintes já começa a ficar mais acentuado, especialmente em meio à parcela mais escolarizada da população. Professores que não dominam bem a língua portuguesa, não conhecem bem a Bíblia nem se esforçam para aprender recursos didáticos necessários ao nosso tempo, estão fadados a ficar sozinhos, falando sozinhos. Dentre outras medidas, resolvemos fazer aqui um banco de leitura que funciona da seguinte forma: O professor leva um livro pra casa e o devolve no mês seguinte, fazendo uma breve exposição oral sobre o que leu; então, pega outro livro e volta quatro ou cinco semanas depois para repetir o processo. Alem disso, só é autorizado a ensinar matérias que ele mesmo já tenha estudado aqui em nossa escola, contando sempre com o auxilio pastoral em relação às dúvidas que normalmente surgem no dia a dia.


5. A escola não é prioridade – Quando a escola bíblica não é priorizada nem devidamente divulgada, sua tendência é ir morrendo pouco a pouco. Para evitar que isso aconteça, divulgamos largamente que nossas turmas estão abertas para todos (inclusive para alunos ainda não crentes) e deixamos bem claro que a freqüência assídua é obrigatória para todos os que exercem ou desejam exercer cargos de liderança dentro da igreja.


6. A escola não é discutida nem organizada a partir da realidade local – Nem sempre as soluções encontradas por uma determinada comunidade serão igualmente úteis para outra. Por isso, faz-se necessário que tudo na escola bíblica seja previamente discutido e montado a partir da realidade local. Por exemplo, na hora de decidir sobre quais grupos heréticos estudar, somente o pastor e sua comunidade saberão quais grupos existem na região e representam de fato uma ameaça para o equilíbrio doutrinário da congregação. Questões de horário também devem ser ajustadas de acordo com a cultura do povo em meio ao qual a igreja está inserida.


A Escola Bíblica, quando organizada de forma apropriada e eficiente, ainda é a maior e melhor ferramenta capaz de produzir crentes convictos, obreiros bem preparados e famílias fortes. O conteúdo da sã doutrina deve ser preservado, mas a forma de transmiti-la deve ser atualizada sempre, sob pena de ficarmos ensinando às paredes.

Humberto de Lima

Humberto de Lima é Bacharel em Direito pela UEPB, graduado em Liderança Avançada pelo Haggai Institute (Maui, EUA) e pastor da IBF – Igreja Batista de Fagundes, PB. É colunista da VINACC e também escreve semanalmente em seu próprio blog, o HumbertodeLima.com

1/10/2010

9 anos de IBF - Conversando com o Pr. Humberto

IBF News - Se aproximam as festividades de aniversário da IBF e nove anos já serão passados depois daquela primeira reunião, naquela noite, naquela sala... Como o pastor analisa esse tempo?
Pr. Humberto
- Foi um tempo de lutas, sofrimento, trabalho árduo e muitas lições aprendidas. Apesar de tudo e apesar de mim, posso dizer que tem valido a pena trabalhar em Fagundes durante todos esses anos. Aprendi que a bondade e a graça de Deus são maiores do que eu imaginava, aprendi o quanto meus amigos acrescentam um plus de alegria (e muitas vezes de alivio) à minha vida, aprendi a colher os frutos da perseverança...
.
IBF News - Resumindo, o balanço é bom...
Pr. Humberto - Sem dúvida! Quando olho pra trás, vejo, dentre muitas outras coisas, centenas de pessoas que foram alfabetizadas através do trabalho de nossa igreja, nosso templo foi construído, já tivemos nossa primeira turma de concluintes na escola bíblica, nosso corpo de liderança está coeso e determinado, dois de nossos jovens estão cursando Teologia em um Seminário Batista, temos um rol de membros crescente, duas igrejas filhas estão em processo de desenvolvimento, fazemos um programa de rádio que alcança milhares de pessoas com a mensagem do Evangelho etc. Muito me alegra poder contemplar jovens e adultos que eram crianças ou adolescentes quando cheguei aqui; fico feliz ao ver como se firmaram na fé, cresceram, progrediram... A maioria está agora fazendo faculdade, alguns já estão trabalhando, tive o prazer de celebrar o casamento de outros... Sou um pastor coruja... (risos).

IBF News - Qual tem sido a postura da IBF em relação às outras igrejas aqui em Fagundes?
Pr. Humberto - Somos Batistas, fiéis à nossa identidade doutrinária e litúrgica. Se você nos perguntar porque nós acreditamos da forma como acreditamos, nós pegamos uma Bíblia, sentamos com você e explicamos porque pensamos de forma diferente. Também reconhecemos que temos nossos próprios problemas e defeitos; e por isso mesmo, evitamos usar o púlpito e o rádio para dizer que somos os preferidos de Deus, que somos mais santos, mais sábios ou melhores que os irmãos de outras denominações. Abominamos toda forma de farisaísmo!

IBF News - Como o pastor vê a criação do CONPEF?
Pr. Humberto - A princípio, achei que seria muito difícil concretizar esse sonho; mas, as orações e o diálogo resultaram em benção. Hoje, o Conselho de Pastores Evangélicos de Fagundes é uma realidade! Recentemente, por ocasião das festividades de aniversário do município, com estrutura cedida pela Prefeitura Municipal, realizamos um grande culto em praça pública com a participação dos pastores e irmãos, assembleianos, batistas, betelinos, congregacionais, presbiterianos... O conselho foi criado para fortalecer a amizade e a cooperação entre nós.

IBF News - Sobre a igreja e a cidade, o pastor e a cidade...
Pr. Humberto - Como igreja, contamos com o respeito e a boa receptividade do povo fagundense em geral; e, temos mantido uma relação de cooperação com o poder público, sempre tendo cuidado para não nos envolvermos com a política partidária. Quanto a mim, confesso que amo muito esse lugar ainda verde, ainda calmo, ainda pequeno...

IBF News - Existem novos sonhos, novos desafios?
Pr. Humberto - Agora é que temos muito mais coisas para fazer! Já não posso fazer tudo sozinho. Então, se você é alguém que gostaria de servir a Deus, colocando os seus dons e talentos a serviço da comunidade, venha conversar comigo. Nós temos espaço para você!

IBF News - Qual é a sua mensagem para o povo fagundense?
Pr. Humberto - Quero encorajar vocês para que se cuidem espiritualmente; pois nem só de pão vive o homem. Entreguem suas vidas a Cristo, leiam a Bíblia, tenham um momento de oração todos os dias e venham para a igreja pelo menos uma vez por semana. A mim preocupa bastante o fato de ver que em nossa cidade vários meninos e meninas já são vítimas da evasão escolar, tabagismo, alcoolismo, gravidez na adolescência, rebeldia, violência familiar etc. Por isso, peço a vocês que invistam na formação religiosa dos pequenos enquanto ainda são pequenos.

IBF News - Agradecimentos?
Pr. Humberto - Ao Pastor do Salmo 23, pastor de todos os pastores, à minha família, à liderança da IBF, aos membros de nossa igreja, ao povo fagundense, aos meus amigos na Paraíba, no Brasil, nos Estados Unidos e no resto do mundo. Sem vocês, nada do que foi feito teria sido feito. Aproveito o espaço para também dizer que continuo precisando da amizade, apoio e orações de todos. Recebam meu abraço
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